Sobre a capacidade de transformar lixo em arte. À primeira vista, assim nos soa o documentário "Lixo Extraordinário" (2010), dirigido pela britânica Lucy Walker e pelos brasileiros João Jardim e Karen Harley. Um artista, um aterro sanitário e uma obra a ser criada. O artista em questão é Vik Muniz, paulistano radicado em Nova York, que ganhou fama por seus trabalhos plásticos com materiais pouco convencionais. Vik se aventura pelo aterro sanitário de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, com o objetivo de retratar os catadores utilizando objetos encontrados no próprio lixo.
Contudo, se inicialmente temos a ideia de que o documentário se debruça apenas sobre o processo de criação do artista, logo os primeiros minutos da película tratam de nos contradizer. Ao longo de três anos, Vik conseguiu transformar seu papel artístico em algo social. Decidido a mostrar a vida que existe por entre garrafas pet, latinhas e papéis, o artista plástico foi a fundo ao adentrar nas histórias de pessoas que ali ganham a vida.
Gramacho é o maior aterro sanitário da América Latina. Todos os dias (e noites), o local recebe cerca de 1.300 catadores e mais sete mil toneladas de lixo. Em 2004, trabalhados formaram a Associação dos Catadores do Jardim Gramacho (ACAMJG) como forma de buscar reconhecimento à atividade. O trabalho de um coletor consiste em separar resíduos reaproveitáveis que serão vendidos para empresas de reciclagem. Até aí, tudo muito simples. Mas, obviamente, o processo é insalubre, feito entre os montes de lixo. Embora mostre-se desumano, são humanos que lá estão.
Apesar de pecar, em certos momentos, pelo exagerado apelo ao sentimentalismo do espectador, "Lixo Extraordinário" cumpre muito bem sua missão. Recheado de figuras caricatas e passagens divertidas, revela que não se trata apenas de transformar lixo em arte, mas sim de achar arte no lixo. Encontrar vida num local esquecido pela sociedade. No final, você vai embora remoendo a questão: o que você faz com seu lixo e o que seu lixo faz com outras pessoas.
Vi onde? Cine Odeon, Festival do Rio 2010, como parte da mostra Première Brasil.
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