10 de set. de 2011

Hakuna Matata... é lindo dizer!

Ir ao cinema assistir a "O Rei Leão 3D" (2010) é entrar num túnel do tempo e ser transportado para uma época em que Hakuna Matata era o lema de nossas infâncias. Distante das parafernálias narrativas e da maquiagem infantil dada a muitas animações atuais, a história do pequeno Simba é, enfim, um filme feito diretamente para crianças, tamanha simplicidade e capacidade de encantamento. O poder de fascínio é proporcional a toda ingenuidade e singeleza que a produção carrega — elementos capazes de transformar adultos em verdadeiras crianças, em lugar de pedir às crianças a maturidade de um adulto.

Esqueça o pinguim rapper, a Chapeuzinho Vermelho karateca e as esquiletes Beyoncé. Lançado originalmente em 1994, "O Rei Leão" apresenta a trajetória do leãozinho Simba, filho de Mufasa, o rei da Pedra do Rei, e herdeiro do trono. Claramente inspirado nos conflitos shakespearianos presentes em Hamlet, o desenho centra-se na disputa pelo poder travada pelo invejoso Scar, que deseja acabar com o irmão e o sobrinho para assumir o trono. Após a morte de Mufasa planejada pelo vilão, Simba consegue fugir, mas culpa-se pela perda do pai. A narrativa segue, assim, para a progressiva metamorfose do filhote em Rei Leão.

Sustentada pela aura de imponência e magnitude construída inicialmente em torno da figura de Mufasa, a sequência de sua morte talvez represente o ápice emocional do filme. Não é à toa que ocupa o posto histórico: foi a primeira morte a ser realmente mostrada ao público em um filme da Disney. Já envolvido pelo mútuo relacionamento de admiração entre pai e filho, o espectador sofre junto com esse pequenino leão tão cheio de fofura. Alegoricamente, é aí que o cinema reafirma sua excelência como dispositivo da identificação.

As canções chiclete facilmente memorizáveis e a comicidade natural da dupla Timão e Pumba tornam a obra dos diretores Roger Allers e Rob Minkoff ainda mais cativante. Para emoldurar tudo isso, a exuberância visual de uma selva decorada com as cores vibrantes de pássaros, macacos e zebras torna o 3D quase dispensável, principalmente quando os efeitos da terceira dimensão transformam em borrões algumas cenas com muita movimentação.

A reexibição de "O Rei Leão" só faz, portanto, desejar que novas tecnologias continuem servindo de pretexto para trazer de volta às telas animações preciosas do passado. Longe de propor uma onda nostálgica no cinema de animação, saudosismos como esse só têm a acrescentar, já que ensinam que, embora nossas crianças pareçam mais maduras a cada geração, elas ainda continuam a ser crianças. Indo além, revelam que nós, adultos, também somos eternas crianças.

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