Com um aceno explícito à sensorialidade do espectador, “A Árvore da Vida” (2011)
leva o cinema a reafirmar-se não apenas como dispositivo das imagens em movimento.
Desde os minutos iniciais, a obra do diretor norte-americano Terrence Malick mostra
sua pretensão de valorizar a potencialidade imagética como arte.
Distanciando-se da tradicional estrutura clássico-narrativa, Malick opta por uma forma
distinta de contar histórias.
Em lugar de tornarem-se reféns de um estilo de montagem
cujo objetivo principal é encontrar na invisibilidade a chave para a mimese, as imagens pulsam como um organismo vivo, pronto para fazer sentir e dar à visualidade espaço para narrar.
Dividido em três eixos temporais predominantes, o longa centra-se no cotidiano de uma família texana na década de 1950 ─ uma vida
marcada pela austeridade e rigidez disciplinar do pai (Brad Pitt) e pela figura doce e
acolhedora representada pela mãe (Jessica Chastain). Em um primeiro momento,
acompanha-se o luto do casal pela perda do filho mais novo. Logo em seguida, imagens
da formação do universo funcionam como marco divisor para um segundo bloco
temporal, dando início a uma retrospectiva da vida de Jack, o primogênito, desde seu
nascimento até a adolescência. Entrelaçando-se a tudo isso, um terceiro eixo
desenvolve-se no presente, dedicado à versão adulta de Jack (Sean Penn), um homem
assolado pelas lembranças do passado.
Destituído do didatismo próprio ao cinema dito dominante, o filme de Malick economiza nos diálogos e abusa das metáforas visuais. Foge às amarras das regras de
continuidade e oferece extrema liberdade às imagens, organizadas em planos longos e
dotadas de ritmo lento. Cabe ressaltar, contudo, que a valorização do plano
imagético, em detrimento da textualidade mais palatável e compreensível das
produções clássicas, não retira do longa-metragem a capacidade de produzir sentido. Há, na verdade, uma história a ser muito mais mostrada do que efetivamente contada ─ o
que não diminui seu potencial como instrumento narrativo.
Ao buscar um afastamento das narrativas clássicas, “A Árvore da Vida” assume-
se como uma obra aberta, mais preocupada em incitar perguntas do que em
delimitar respostas. Usa o simbolismo visual para questionar a natureza da vida e
incitar dúvidas sobre a existência humana. Concede ao espectador a
possibilidade de inferir os próprios significados, sem defini-los como certos ou errados.
O processo de identificação entre obra e público nasce, portanto, não da tentativa de
mimetizar uma realidade na tela escondendo suas marcas de feitura, mas sim do poder
de sensibilização dado às imagens.
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