Alçado ao título de filme mais controverso do último Festival Sundance, "A mulher selvagem" (2011) impressiona pelas verdades que jorram junto ao sangue e as tripas para desconforto do espectador. Visual e tematicamente violento, o longa toca no âmago de uma sociedade que gosta de bater no peito e bradar dizendo-se civilizada. É um incômodo nauseante pela fúria com que ataca o homem branco, educado e patriarca, aquele que esconde a própria selvageria sob a polidez do terno e gravata.
O roteiro trabalha, na maior parte do filme, com a expectativa de libertação da mulher e o perigo que representa caso consiga escapar. Há uma sensação constante de que o fim trágico (e sanguinolento) se aproxima. Ao mesmo tempo, o desejo de vingança passa a ser partilhado com o público, terrificado pela brutalidade com que a personagem-título é tratada. Chris é a epítome do garanhão bem-sucedido que, de civilizado, não tem nada. Extremamente sádico e cruel, bate na esposa submissa, estupra a prisioneira e — possivelmente, já que Mckee não deixa isso claro — mantem relações incestuosas com a filha mais velha, grávida de não se sabe quem. O filho, por sua vez, é a reprodução desse modelo de masculinidade, cuja violência é aceita naturalmente, como essência do sexo que detém o poder.
Longe de ser meramente a libertação da selvageria, o gran finale leva a repensar os paradigmas de civilidade. Não é a vitória da mulher selvagem. É a revolta contra uma civilização da barbaridade.
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