18 de out. de 2011

Festival do Rio: Os aliens descobrem a periferia

Alienígenas peludos, com dentes fluorescentes, invadem a periferia. É com um argumento simples que “Attack the block” (2011) consegue brincar com os clichês de um gênero e, de forma bem-humorada, assumir-se como metáfora social. Dirigido pelo estreante Joe Cornish, o longa transforma um ataque extraterrestre a um bairro pobre do sul de Londres em pano de fundo para a regeneração moral de uma gangue de adolescentes marginalizados.

Além de misturar temáticas sociais a diálogos bem construídos, a ficção científica parece fazer uma homenagem a clássicos dos anos 1980 ao resgatar o espírito aventureiro de “Os Goonies” (1985) e a bizarrice das criaturas gosmentas em “Os Gremlins” (1984).

Na produção, o distrito de Brixton é atacado por aliens na Noite de Guy Fawkes, feriado britânico comemorado com fogueiras e fogos de artifício. A chegada dos invasores acaba por se confundir às luzes pirotécnicas no céu de Londres, o que faz com que o fenômeno passe despercebido pelo restante da população. Liderado por Moses (John Boyega), um grupo de jovens é surpreendido com a queda de um “asteróide” no momento em que tenta assaltar Sam (Jodie Whittaker), enfermeira que mora no mesmo prédio em que os garotos (em inglês, usa-se “block” para se referir aos prédios de habitação popular, daí o título do filme). Ao perceber que o asteróide, na verdade, é um ser extraterrestre, Moses e sua gangue decidem matar a criatura. Logo, no entanto, um bando de "lobos-gorilas-what-the-fuck” caem no bairro e passam a perseguir os adolescentes.

Despretensioso e levemente satírico, “Attack the block” encontra seu principal mérito ao flertar com a verossimilhança. Afinal, por que, raios, marginais da periferia conseguiriam se tornar os melhores caçadores de extraterrestres? A resposta é clara: como afirma um dos jovens, eles estão acostumados a serem atacados diariamente por outros inimigos, e esses são humanos. Ao mesmo tempo, se a fórmula dos anti-heróis que ganham a admiração do público parece bastante óbvia, o roteiro trata de torná-la desconcertante ao mostrar que — antes de anti-heróis — Moses e seus amigos são produtos de uma sociedade marcada por problemas que vão das drogas ao confronto com a polícia.

Permeado por lições de moral que beiram o lugar-comum e deixam ainda mais transparente a tentativa de transformar os “vilões” da periferia em heróis, o primeiro longa-metragem de Cornish bate no liquidificador ficção científica, aventura e comédia, adoçando tudo com a sutileza das críticas sociais. Pode até ter jeitinho pipoca. Entretanto, ao transformar um jovem de 15 anos, que fuma maconha e assalta mulheres, em salvador do planeta, “Attack the block” revela-se menos gratuito e muito mais genial.


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